Mesa de toilette de Dona Lucilia |
Certo
dia Dª Lucilia permaneceu em seu quarto por longo tempo, remexendo papéis
guardados numa gaveta da mesa de toilette. Sem ela perceber, Dr. Plinio a
observava. Com dificuldade, devido à catarata, examinava cada um dos papéis,
reunia-os melancolicamente e em seguida os rasgava. Tendo tomado como regra
nunca desgostá-la, Dr. Plinio nada fez para impedir aquela destruição.
Tratava-se
de escritos diversos, muitos dos quais Dª Lucilia conservara a vida inteira.
Pressentindo que em breve entregaria a alma a Deus, ela mesma quis pôr em ordem
seus pertences. Era uma ação ditada pelo desejo de não dar trabalho a outros
após seu falecimento, e por uma lealdade e firmeza de alma, certamente
resultante de uma reflexão como esta: “A morte se aproxima e, vista de frente,
a conduta razoável é esta”.
Assim,
procedia aos funerais de suas recordações, antes de suas próprias exéquias.
Dias
depois de ela ter morrido, verificou-se que havia deixado apenas o essencial.
Dr. Plinio então notou que sua mãe jogara fora muitos papéis que ele teria
gostado imensamente de conservar, como, por exemplo, várias agendas nas quais
ela anotava, com escrupulosa precisão, as despesas da casa, contas feitas com
esmero, e quantas outras lembranças...
Desfazer-se
tranquilamente de todos aqueles papéis cujo teor talvez nos fizesse conhecer
outros aspectos de sua bela alma era, da parte dela, um sinal da serenidade com
que ia transpor os umbrais da eternidade.
Transcrito, com adaptações do livro “Dona Lucilia”, de Mons. João S. Clá Dias
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